Na véspera da data anunciada por serviços de inteligência ocidental como a de uma possível invasão da Ucrânia pela Rússia, o governo de Vladimir Putin anunciou o início da retirada de parte das tropas que se exercitavam perto das fronteiras do vizinho.
O anúncio, feito às agências de notícias russas pelo Ministério da Defesa, não especifica quantos soldados estão envolvidos na volta às suas bases permanentes, apenas que eles fazem parte dos distritos militares Ocidental e Sul, em áreas contíguas ao território ucraniano.
Ao mesmo tempo, avança a manobra russa de reconhecer as áreas separatistas na Ucrânia como governo, o que pode manter Kiev longe da adesão ao Ocidente, como deseja o presidente russo.
Desde novembro, Putin concentrou ao menos 130 mil soldados em torno do vizinho e emitiu um ultimato buscando estabelecer um novo concerto de segurança no Leste Europeu mais a seu gosto, após 30 anos de expansão da Otan (aliança militar ocidental) e da UE (União Europeia) sobre os antigos satélites comunistas de Moscou.
O Ocidente rejeitou a ideia. Desde a semana passada, os Estados Unidos lideram uma onda alarmista, citando até a data de quarta como a de uma invasão, que chama de “iminente” desde o começo do ano. Na segunda (14), imagens de satélite da empresa americana Maxar sugeriram o envio de mais tropas no fim de semana, talvez totalizando 150 mil soldados.
O Kremlin nega ter intenção de invadir, e por isso uma eventual retirada é politicamente vendável por Putin como algo natural.
Mas não há nada de casual no anúncio. Ele ocorreu quando desembarcava em Moscou o chanceler (premiê na definição alemã e austríaca) da Alemanha, Olaf Scholz, em sua primeira visita a Putin desde que assumiu a cadeira que foi por 16 anos de Angela Merkel.
Sob intensa pressão doméstica e por parte do presidente Joe Biden, que visitou em Washington, Scholz irá fazer um apelo ao colega russo para que haja uma desescalada na atividade militar. Ele tem a carta mais poderosa, exceto que se considere a possibilidade de armas nucleares serem empregadas numa guerra europeia: seu mercado para o gás natural russo.
A Alemanha, mas também a França e outras nações europeias, têm fortes investimentos em infraestrutura energética com Moscou. Cerca de 40% do consumo de gás natural do continente é suprido pelos russos.
Em setembro passado, foi completado o gasoduto Nord Stream 2, que irá duplicar a quantidade de gás enviado diretamente da Rússia para os alemães, tirando assim rendimentos do trânsito feito por meio de antigas rotas soviéticas pela Ucrânia —anualmente, Kiev tira algo como US$ 2 bilhões desse pedágio. Berlim adiou o início de sua operação alegando detalhes burocráticos.
Fonte: Folhapress