O Comandante do Exército, general Paulo Sérgio, decidiu nesta quinta-feira (3) não aplicar nenhuma punição ao general Eduardo Pazuello, por participar de um ato político com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Rio de Janeiro no último dia 23. O processo disciplinar foi arquivado.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (3), o Centro de Comunicação do Exército justificou que Comandante do Exército “analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general”.
Encontro com Bolsonaro há uma semana
A decisão coube apenas a Paulo Sergio, que durante a semana teve um encontro com o presidente Bolsonaro no Amazonas há uma semana, em 27 de maio, justamente para conversar sobre a quem caberia decidir a punição dada ou não a Pazuello.
Também estavam na mesma viagem os ministros da Defesa, Braga Netto, e o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, ambos generais da reserva e que tentavam amenizar os ânimos na caserna fazendo apelos ao Comandante de que não se criasse uma crise na instituição e nem com o governo.
Na ocasião, militares ouvidos pela coluna diziam que ainda esperavam no mínimo uma advertência a Pazuello. O receio: o Exército não pode deixar brecha para autorizar que outros militares sintam-se à vontade em palanques, ainda mais em ano pré-eleitoral. Generais da reserva disseram à coluna que consideram o argumento usado pelo presidente e pelo ex-ministro de “ridículo”. Alegam que o fato de o presidente não ter partido não significa que ele já não está em plena campanha de reeleição..
Falta de punição é novo conflito para generais
Pelo Regulamento Disciplinar do Exército, caso a transgressão fosse considerada as punições disciplinares previstas, em ordem de gravidade crescente, eram: advertência; impedimento disciplinar; repreensão; detenção disciplinar; prisão disciplinar; licenciamento e até exclusão.
Ontem, Paulo Sérgio teve uma longa reunião do Alto Comando, grupo formado por 16 generais quatro estrelas, incluindo o Comandante, e que defendia algum tipo de punição a Pazuello.
A participação de um militar da ativa em ato político é vedada pelo Regulamento do Exército.
A decisão do Comandante deve desagradar boa parte do generalato, já que desde que Pazuello subiu no palanque ao lado de Bolsonaro houve uma reação muito enfática dentro do grupo de algum tipo de punição seria necessária para poder dar exemplo às tropas.
A avaliação feita pelos generais era de que autorizar a participação de um militar da ativa em ato político daria um péssimo exemplo para todos os militares em ano pré-eleitoral. Agora, no entanto, a caserna terá esse novo conflito para resolver internamente.
Irritação continua
Ainda há muito incômodo da cúpula militar com a postura de Pazuello, que segue sem aceitar as pressões para ir para a reserva.
A notícia de que o general ganhou um cargo no Palácio do Planalto para despachar a poucos metros do presidente pegou de surpresa a caserna. O general foi nomeado na terça-feira (1) para o cargo de Estudos Estratégicos da Secretária de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência, com salário de mais de R$ 16 mil.
Alguns generais viram no ato de Bolsonaro e de Pazuello uma espécie de provocação para as Forças Armadas.
Isso porque, mas palavras de um militar de alta patente: “Com Pazuello na ativa e despachando no Planalto, Bolsonaro continuará tentando arrastar o Exército para a política, o que é lamentável”.
Além de dar força a Bolsonaro, Pazuello disse aos militares que não gostaria de deixar o cargo de general enquanto dure a CPI da Covid. O ex-ministro da Saúde terá que depor novamente aos senadores e avalia que o “manto da farda” lhe dá mais respeito por parte dos parlamentares.
Fonte: Folhapress