Nélida Piñon presidiu a Academia Brasileira de Letras

Nélida Piñon, primeira presidente mulher da ABL, morre aos 85 anos

A escritora Nélida Piñon morreu neste sábado, em Lisboa, aos 85 anos. A informação foi confirmada por Rodrigo Lacerda, editor na Record, casa que publicou livros da autora. A causa da morte não foi informada.

A escritora brasileira foi eleita a quinta ocupante da 30ª cadeira da Academia Brasileira de Letras, a ABL, em 1989. Sete anos depois, Piñon virou presidente da instituição criada por Machado de Assis, tornando-se a primeira mulher a assumir o posto.

Piñon estreou na literatura com o romance “Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo”, lançado em 1961. Seu segundo livro “Madeira Feito Cruz” saiu dois anos depois, em 1963.

A autora é, ao lado de Jorge Amado e Paulo Coelho, um dos nomes mais exportados da literatura brasileira. Ela foi responsável por romper fronteiras e abrir caminhos para escritores brasileiros. Exemplo disso é o fato de foi Piñon quem apresentou Machado de Assis a Susan Sontag, uma premiada escritora americana.

Piñon foi também a primeira autora latino-americana a ganhar os prêmios Juan Rulfo, o Nobel da América Latina.

Apesar de ter sido peça-chave na promoção da literatura brasileira no exterior, esta não foi uma estrada fácil de ser percorrida. Piñon falava sobre seus encontros com escritores internacionais de forma afetuosa, mas encontrou obstáculos em suas trajetória.

Recebeu críticas duras depois de publicar seu livro de estreia. “Tive campanhas de escritores que sistematicamente me atacavam. Teve um escritor que dizia ‘nunca seja como Nélida Piñon’. Mas eu nunca desisti. Nunca fiz disso matéria de ressentimento”, afirmou em entrevista a este jornal em junho.

Para pagar as contas nos anos 1970, quando ainda estava em começo de carreira, Piñon dava aulas e palestras fora do Brasil. Mesmo em eventos desse tipo, se sentia distante de grandes nomes da literatura da época. Mas aproveitava quando tinha um microfone na mão para se fazer notada.

Deu certo. Em 2005, pelo conjunto de sua obra, recebeu Príncipe de Astúrias, o maior prêmio de literatura espanhol. Ela foi a primeira brasileira a conseguir o feito, na época derrotando o israelense Amos Oz e os americanos Paul Auster e Philip Roth. Até hoje nenhum outro brasileiro foi agraciado com o título.

Apesar das conquistas, Piñon dizia que seu reconhecimento dentro do Brasil país é inferior ao que tem no exterior. “Eu acho que sou respeitada. Se eu tivesse ganhado hoje o Príncipe das Astúrias, a reação teria sido diferente. Não estou me exibindo”, disse à Folha.

Piñon tinha relação estreita com a Espanha desde criança, após ter passado parte da infância na Galícia, uma comunidade rural do país europeu. Apesar disso, a escritora nunca quis ter nacionalidade espanhola. Dizia que era em respeito ao seu avô, Daniel, o primeiro de seus antepassados a cruzar o oceano Atlântico.

Nem mesmo o vínculo profissional e cultural que estabeleceu com a Espanha foi o suficiente para que ela superasse essa lealdade familiar.

Acontece que o governo espanhol decidiu conceder nacionalidade a ela no fim do ano passado. Com isso, Piñon passou a ser brasileira e espanhola, como era seu avô.

Para retribuir à Espanha, país pelo qual ela fazia questão de afirmar seu carinho, Piñon doou neste ano 8.000 volumes de sua biblioteca pessoal para o Instituto Cervantes, no Rio de Janeiro, que promove o ensino de língua e cultura espanhola. A coleção tinha exemplares autografados por nomes como Jorge Amado, Toni Morrison, Gabriel García Márquez. Foi um dos seus grandes últimos feitos em vida.

A escritora foi doutora honoris causa das universidades Poitiers, Santiago de Compostela, Rutgers, Florida Atlantic, Montreal e UNAM. O título é dado a personalidades que se destacam pela atuação em defesa das artes, da ciência e das letras. Em 2012, foi nomeada Embaixadora Ibero-Americana da Cultura.

A ABL fará uma cerimônia chamada Sessão da Saudade em homenagem à autora no dia 2 de março, num salão da própria entidade, que tem sede no Rio de Janeiro. O corpo de Piñon deve ser trazido ao Brasil para que o sepultamento ocorra no Cemitério São João Batista, no bairro carioca Botafogo, ainda sem data confirmada.

Fonte: Folhapress

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