Pesquisas de boca de urna apontam que o segundo turno da eleição francesa será disputado pelo atual presidente, o centrista Emmanuel Macron, e a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen. Na pesquisa Ipsos/Sopra Steria, Macron aparece com 28,1% e Le Pen, com 23,3%. Os dois falaram aos apoiadores na noite deste domingo (10).

Hoje os franceses foram às urnas para votar na eleição presidencial, que teve doze candidatos. O segundo turno acontece daqui a duas semanas, em 24 de abril. Quem vencer, terá mandato de cinco anos, até 2027.

O resultado do primeiro turno deste ano foi melhor para o mandatário e sua adversária em relação ao do pleito de 2017, que também foi protagonizado por Macron e Le Pen. Há cinco anos, o presidente obteve 24% dos votos contra 21,3% da oponente em primeiro turno.

Demais candidatos
O levantamento Ipsos/Sopra Steria de hoje ainda apontou, em terceiro lugar, o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, com 20,1%. A pesquisa foi divulgada às 20h, pelo horário de Paris (15h em Brasília). Na sequência, aparecem:

Eric Zemmour, com 7,2%;
Valérie Pécresse, com 5%;
Yannick Jadot, com 4,4%;
Jean Lassalle, com 3,3%;
Fabien Roussel, com 2,7%;
Nicolas Dupont-Aignan, com 2,3%;
Anne Hidalgo, com 2,1%;
Nathalie Arthaud, com 0,8 %;
Philippe Poutou, com 0,7%.
Outras pesquisas de boca de urna também apontaram a ida de Macron e Le Pen para o segundo turno.

Abstenção de votos
Cerca de 48,7 milhões de eleitores estavam habilitados a votar, mas até as 17h, horário de Paris (12h, em Brasília), a participação do eleitorado era a mais baixa desde 2002.

Segundo dados do Ministério do Interior, até então, ela era de 65%, 4,4 pontos a menos do que em 2017 no mesmo horário, e 6,55 pontos a mais do que em 2002, ano com recorde de abstenção em uma eleição presidencial.

A participação era uma das principais preocupações nos últimos dias de campanha. O voto não é obrigatório na França.

Às 19h, pelo horário de Paris (14h em Brasília), uma hora antes do fechamento das últimas urnas, o índice de abstenção era de 26,5%.

Macron e Le Pen discursam a apoiadores
Emmanuel Macron falou para apoiadores em Paris. O presidente francês lembrou que “nada está decidido”. Ressaltou, ainda, que o segundo turno contra Le Pen será “decisivo” para a França e a Europa, e elogiou a “clareza” dos candidatos derrotados ao pedirem votos contra a extrema-direita.

“Não se engane, nada acabou. O debate que teremos nos próximos 15 dias será decisivo para o nosso país e para a Europa”, disse. “Você pode contar comigo para implementar este projeto de progresso, abertura e independência da França que defendemos durante esta campanha”.

Já Le Pen pediu a união da direita e da esquerda, citando “todos aqueles que não votaram em Emmanuel Macron” para que se juntem a ela. A candidata ultradireitista também agradeceu o apoio daqueles que votaram nela e a levaram ao segundo turno.

“Vejo a esperança de que as forças de recuperação do país estejam aumentando. Todos aqueles que hoje não votaram em Emmanuel Macron são chamados a participar do nosso comício “, afirmou.

As eleições francesas raramente são decididas no primeiro turno: desde o início da Quinta República, em 1958, apenas o general Charles de Gaulle conseguiu o feito. Esta é a terceira vez que um candidato de extrema-direita passa para o segundo turno, repetindo os pleitos de 2002 e 2017.

O ano de 2002 é o exemplo das surpresas que podem sair do primeiro turno. Na ocasião, o ultradireitista Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, se habilitou, contrariando todos os prognósticos, ao segundo tuno contra o conservador Jacques Chirac, que acabou se reelegendo.

Marine Le Pen, 53, e Emmanuel Macron, 44, já disputaram as chaves do Palácio do Eliseu em 2017. Mas, embora o cenário pareça se repetir cinco anos depois, o país não é o mesmo.

O coronavírus eclodiu na França no começo de 2020, confinou milhões de pessoas e deixou para trás uma primeira metade de mandato de Macron marcada por protestos sociais. A guerra na Ucrânia emergiu quando os franceses começavam a respirar.

O candidato de centro admitiu “erros” durante seu primeiro mandato, sobretudo por suas polêmicas frases que o fizeram aparecer arrogante, e reafirmou seu ímpeto de reformista liberal, ressuscitando sua proposta impopular de retardar a idade da aposentadoria de 62 para 65 anos.

Com as medidas tradicionais da extrema-direita no programa, como reservar as ajudas sociais aos franceses, Marine Le Pen suavizou seu discurso para tentar capitalizar o descontentamento social com Macron. Seu adversário da extrema-direita, Éric Zammour, a ajudou a parecer menos radical.

A campanha
O atual presidente entrou tardiamente na campanha, anunciando oficialmente sua candidatura à reeleição no início de março, um dia antes do prazo final. Nas semanas seguintes, evitou presenciar eventos de campanha e participar de debates com outros candidatos, preferindo o protagonismo como um mediador na guerra na Ucrânia.

A estratégia foi inicialmente benéfica para Macron, que conseguiu imprimir uma imagem de estadista e subir nas pesquisas. Mas o efeito nos preços da energia o devolveu ao primeiro plano, sobretudo pela inquietação sobre o poder aquisitivo —especialmente quando os franceses começaram a se mostrar mais preocupados com os impactos do conflito na economia.

O início da guerra impulsionou Macron. Porém, na reta final da campanha, sua principal adversária, Le Pen, avançou nas pesquisas até encostar, ameaçando o favoritismo do candidato.

A eleição, que determinará o rumo da França até 2027, também será acompanhada de perto em nível internacional, enquanto as últimas pesquisas da sexta-feira apontavam para um segundo turno em 24 de abril entre Macron e Le Pen. A candidata da extrema direita tem chances de vencer.

O início da guerra impulsionou o candidato do A República em Marcha —LREM—, que jogou a cartada da mediação entre Kiev e Moscou e da estabilidade de um presidente pró-europeu que atravessou várias crises: protestos sociais, pandemia e agora os efeitos da ofensiva russa na Ucrânia.

Sua adversária do RN (Reagrupamento Nacional) apostou por se apresentar como a defensora do poder aquisitivo e das classes populares, diante de um Macon “presidente dos ricos”, mas seu programa internacional gera temores sobre mudanças nas alianças internacionais da França se ela for eleita.

Le Pen propõe, entre outros, abandonar o comando integrado da Otan, órgão da Aliança Atlântica que determina a estratégia militar. Sua eleição representaria, ainda, um novo revés para a UE (União Europeia), após a reeleição do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.

O segundo turno
O segundo turno desenha-se imprevisível desta vez, ao contrário do que aconteceu em 2017. Na ocasião, pesquisas davam como certo que Macron facilmente derrotaria Le Pen. Macron venceu aquela segunda rodada com 66,06% dos votos válidos, contra 33,04% de Le Pen.

Agora, Macron ainda aparece à frente em praticamente todos os levantamentos. Mas sua vantagem no segundo turno é pequena se comparada a 2017: maioria das pesquisas o mostra apenas entre dois e seis pontos à frente de Le Pen.

O segundo turno de 2017 ainda havia sido marcado por um comparecimento mais fraco do que no primeiro —o oposto do que havia ocorrido em 2002. Ao todo, 25,8% dos eleitores deixaram de comparecer às urnas nesse turno há cinco anos.

(Com Reuters, Ansa, RFI, AFP e DW)

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