Artigo – Manelão

A existência de Manelão, nas ruas centrais de Teresina, era uma realidade. Todos conheciam ou ouviram falar nele e em suas peripécias durante a noite nas casas das pessoas.

O Manelão era um indivíduo muito agradável. Dava-se com todos. Muito delicado no trato. E gostava de conversar com as pessoas, ainda que fosse a sua próxima vítima.

E porque era dado, agradável e delicado, muitos não acreditavam que fosse capaz de subtrair os pertences das pessoas, em suas casas, à noite, porém, também praticava os seus pequenos roubos pela manhã.

Manelão era apaixonado por avião. E sempre fazia gestos e barulhos idênticos aos de aviões. Gesticulava os braços e emitias sons comparáveis aos de qualquer avião.

Possuía uma quantidade enorme de brinquedos, notadamente aviões. E, estes, eram guardados com maior cuidado. Os brinquedos que representavam os aviões, apenas Manelão brincava, e nenhum amigo e irmão pegava no aviãozinho.

Evidente que entre aqueles brinquedos de avião, existiam alguns que eram roubados, mas ninguém queria de volta o avião surrupiado.

Todos os vizinhos suspeitavam dessa prática de Menelão; entretanto, ninguém ousava retirar o brinquedo; Manelão ia para cima, criando uma briga grandiosa e ele protestava que jamais havia pego o Aviãozinho do amigo do vizinho.

E o avião era mesmo do filho do amigo do vizinho. Estava marcado à ferro com a marca do filho. Contudo, para acalmar os ânimos, o pai desconsiderou tudo e foi para casa. E de lá, seguiu para o comércio, foi adquirir outro aviãozinho para o filho que estava inconsolável devido ao ato do Manelão.

O Manelão não podia ver um avião no ar de Teresina, taxiando para descer no aeroporto, porque abandonava tudo, inclusive os amigos da noite, para presenciar a descida do aparelho voador. E ficava até ver o avião parar no aeroporto.

O Manelão também criava algumas galinhas. E produzia ovos para vender. Era um galinheiro com mais de 50 galináceas. Mas era um disfarce para chegar às casas à noite.

​Ele, Manelão, procurava fazer amizades para acercar-se da próxima vítima. Falava muito pouco com a vítima, mas prestava-se a fazer favores, até realizar o procedimento, para roubar o objeto desejado.

​Ele possuía uma bicicleta, que deixava na entrada da casa que tomou como moradia. O imóvel estava abandonado, mas ninguém levava a sua bicicleta, com receio dele. Era violento quando tiravam qualquer objeto de sua posse. E nada era dele. Tudo objeto de furto.

Nem sequer a Polícia Militar e Civil o incomodavam. Deixavam ele à vontade porque era muito pior prendê-lo; ou lhe dá umas palmadas. Gritava que ninguém batia nele. Dizia-se inimputável.

E falava!: tenho a mesma condição dos índios, que, embora praticando roubos e furtos, e negociando animais silvestres com ONCs internacionais e brasileiros, não pode ser preso.

E os índios do Maranhão, que vivem em Timon, gostam muito de mim. Sempre dou para eles brinquedos velhos que não quero mais, cachaça e tiquira. E, assim eles, me adoram. Alguns deles já dormiram até aqui comigo.

Os índios são amáveis, embora brutos, desde que nasceram. Vivem Nas matas. Não tem contatos com o homem branco. Não há interação e/ou integração social, por isso, faltam-lhe habilidade e serenidade para conversas com outros grupos sociais.
​Manelão gostava mesmo era de furtar, de aviões e da bicicleta.

MAGNO PIRES é Diretor-geral do Instituto de Águas e Esgotos do Piauí – IAE-PI, Ex-Secretário de Administração do Piauí e ex-presidente da Fundação CEPRO, advogado da União (aposentado), professor, jornalista e ex-advogado da Cia. Antáctica Paulista (hoje AMBEV) por 32 anos consecutivos.

relacionadas

talvez você goste