Hungarian army members stand guard as people flee from Ukraine to Hungary, after Russia launched a massive military operation against Ukraine, in Vasarosnameny, Hungary, February 25, 2022. REUTERS/Bernadett Szabo

Rússia admite pela primeira vez que quer derrubar governo de Zelenski

Seis meses depois de ter invadido a Ucrânia, a Rússia admitiu pela primeira vez que tem como objetivo na guerra a derrubada do presidente Volodimir Zelenski do poder em Kiev.

“Russos e ucranianos vão continuar vivendo juntos, e nós certamente iremos ajudar o povo ucraniano a se livrar do regime”, afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov, para quem Moscou está determinada a ajudar os vizinhos “a se livrarem do fardo desse regime absolutamente inaceitável”.

A frase foi dita no domingo (24) a diplomatas durante uma cúpula da Liga Árabe no Cairo. Segundo agências de notícias, Lavrov voltou a acusar o Ocidente por ter insuflado a Ucrânia contra a Rússia, supostamente com o objetivo de provocar a guerra.

A admissão de um segredo de polichinelo é bastante significativa do estágio atual do conflito, iniciado em 24 de fevereiro com ataques em múltiplas frentes contra as forças ucranianas por ordem do presidente Vladimir Putin.

Naquele momento, o russo sugeriu ações que claramente indicavam a vontade de derrubar Zelenski: afirmou que a operação visava “desmilitarizar e desnazificar” o vizinho, a quem acusava de proteger políticos de orientação neonazista, e “liberar o Donbass” —o leste russófono a Ucrânia.

Putin chegou a incitar militares ucranianos contra Zelenski, mas nunca advogou diretamente sua remoção. Suas ações, claro, foram na linha contrária: em três dias de guerra havia soldados russos na periferia de Kiev.

O impulso inicial, contudo, era falho, com frentes divergentes e pouca concentração de forças. A dura resistência ucraniana às más táticas russas acabaram frustrando a ideia de uma tomada da capital ucraniana que levasse ao colapso do governo Zelenski.

Os Estados Unidos, após sugerir ao presidente ucraniano que fugisse do país, passaram então a liderar uma campanha de fornecimento de armamento ocidental para a Ucrânia. É um processo gradativo, associado ao duro mas até aqui relativamente ineficaz regime de sanções contra Moscou, devido ao temor de um embate direto da Otan (aliança militar ocidental) com os russos.

Em meio às negociações iniciais para tentar conter o conflito, a Rússia afirmou então que não tinha interesse em derrubar Zelenski ou ocupar a Ucrânia. Seu objetivo declarado, de resto um dos motivos estratégicos da guerra, era o de manter o vizinho fora da Otan e outras estruturas do Ocidente.

A modulação do discurso ante a realidade no campo de batalha parece ter tomado agora caminho inverso. Seis meses depois, a Rússia se reorganizou e estabeleceu uma posição de força no Donbass e no sul do país, unido a região à Crimeia, península que Putin havia anexado sem dar um tiro em 2014.

Fonte: Folhapress

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