A ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez, que foi presa na madrugada deste sábado (13), estava escondida dentro de uma cama box, segundo autoridades responsáveis pela detenção. Ela foi detida pelas acusações de conspiração, sedição e terrorismo durante os dias que se seguiram à renúncia de Evo Morales, em novembro de 2019.

De acordo com a Agencia Boliviana de Información, Áñez “estava escondida em uma cama box para burlar a intensa operação policial realizada nas investigações pelo ‘Caso Golpe de Estado'”.

Segundo movimentos sociais bolivianos, a ex-presidente tentou fugir para o Brasil em novembro de 2020, mas foi impedida.

“A ordem de apreensão estabeleceu risco de fuga (…) e estabelece que há facilidade para [Áñez] abandonar o país, o que é um risco processual”, publicou a ABI. De acordo com a Radio Kawsachun, as autoridades chegaram a temer que ela tivesse conseguido executar a fuga para o Brasil desta vez, mas uma revista mais minuciosa encontrou a ex-presidente tentando se esconder.

A prisão
A televisão boliviana mostrou Áñez chegando ao aeroporto de El Alto, que serve La Paz, no momento em que ela disse que sua prisão era “ilegal”. Junto a ela, que não estava algemada, estavam o ministro do Governo (Interior) Carlos Eduardo del Castillo e vários policiais.

“Informo ao povo boliviano que a senhora Jeanine Áñez já foi apreendida e neste momento está nas mãos da polícia”, anunciou antes Del Castillo em suas contas do Twitter e Facebook, parabenizando as forças de ordem pelo seu “grande trabalho (…) nesta grande e histórica tarefa de fazer justiça ao povo boliviano.”

A ex-presidente declarou nas redes sociais que se trata de “um ato de abuso e perseguição política”.

O governo “me acusa de ter participado de um golpe de Estado que nunca aconteceu”, disse Áñez em sua conta do Twitter.

Até o momento, não se sabe onde ela foi presa. No dia anterior, havia um grupo de policiais em frente à sua casa na cidade amazônica de Trinidad, capital do departamento de Beni, localizada 600 km ao nordeste de La Paz.

Sedição, terrorismo, conspiração
O Ministério Público da Bolivia emitiu na sexta-feira uma ordem de prisão contra a ex-presidente de direita e vários de seus ministros, denunciados por crimes de sedição, terrorismo e conspiração.

Dois deles, Álvaro Coímbra, ex-chefe da Justiça, e Rodrigo Guzmán, da Energia, foram detidos em Trinidad e transferidos para La Paz.

A ordem do MP partiu de uma denúncia apresentada em dezembro passado por Lidia Patty, ex-legisladora do governante Movimento Ao Socialismo (MAS, esquerda), de Morales.

Em sua denúncia, Patty afirmou que o líder civil da região de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, Áñez, vários ex-ministros, ex-militares, ex-policiais e civis promoveram a queda de Morales em novembro de 2019, após 14 anos no poder.

Áñez substituitu Morales constitucionalmente após sua renúncia em novembro de 2019 em meio aos protestos após eleições denunciadas como fraudulentas. Liderou o governo até novembro de 2020, quando o atual presidente Luis Arce foi eleito.

Em uma carta, Camacho alertou que “os bolivianos não ficarão de braços cruzados diante do abuso” e garantiu que não deixará o país. Camacho venceu a eleição do fim de semana passado para governador da rica região de Santa Cruz (leste) com mais de 55% dos votos.

A ordem dos promotores abrange também os ex-ministros Arturo Murillo (Interior), Luis Fernando López (Defesa) e Yerko Núñez.

Protestos da oposição
O ministro da Justiça Iván Lima e o presidente do Senado e poderoso líder oficialista Andrónico Rodríguez, afirmaram que a Justiça está agindo com independência do poder político e negaram uma perseguição.

“Nós não podemos interferir nos casos levados pelo Ministério Público e pela Justiça. São casos que eles devem tratar com objetividade e independência”, afirmou Lima.

Rodríguez reiterou separadamente a narrativa oficialista de que no final de 2019 houve um golpe de Estado e ressaltou que o que está acontecendo agora “não é perseguição, é justiça”.

Os ex-presidentes da Bolívia – o centrista Carlos Mesa (2003-2005) e o direitista Jorge Quiroga (2001-2002) – rejeitaram separadamente as prisões e ordens de prisão. Ambos foram atores-chave para a transição do governo de Morales para o de Áñez em 2019.

“Estamos em um processo de perseguição política pior do que nas ditaduras. Está sendo executado contra quem defendeu a democracia e a liberdade em 2019”, disse Mesa no Twitter.

Quiroga, no mesmo caminho, apontou que “começa uma caça à vingança” e o presidente Arce respondeu a ele que “é um aprendiz de tirano”.

Um grupo de opositores impulsionou protestos em todo o país em 2019 após as eleições de outubro desse ano, denunciadas como fraudulentas a favor de Morales, que buscava um quarto mandato.

Morales buscou refúgio no México e um mês depois foi para a Argentina, onde ficou refugiado até a eleição de Arce.

Um grupo de investigadores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) está na Bolívia indagando o ocorrido no final de 2019.

*Com informações da agência Ansa

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