Presidente da República, Jair Bolsonaro, participa da cerimônia de cumprimento aos Oficiais Generais promovidos

‘Preciso salvar o governo’, disse Bolsonaro ao escolher Ciro Nogueira

O presidente Jair Bolsonaro buscou um argumento forte para desalojar do cargo seu amigo e ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. Usou a mesma explicação para tomar do poderoso “posto Ipiranga” do Planalto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, um pedaço de sua pasta.

“Preciso salvar o governo”, disse Bolsonaro aos assessores quando revelou que chamaria o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), para o comando da Casa Civil da Presidência da República.

A entrada do senador provocou a mais profunda mexida no governo desde a posse de Bolsonaro. Ciro Nogueira não tem a popularidade do ex-juiz Sergio Moro, que foi demitido do Ministério da Justiça, mas o senador comanda o maior partido do centrão, grupo de legendas de centro e de direita que dá as cartas no Congresso

O centrão deu sustentação a todos os governos desde o fim da ditadura militar. Nas vezes em que rompeu, o presidente da República acabou sofrendo impeachment. Foi o caso do hoje senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL) e da petista Dilma Rousseff.

E houve uma ameaça real de que isto ocorresse com Bolsonaro num momento em que ele enfrenta a CPI da Covid no Senado; quase 600 mil mortes pela pandemia; acusações de corrupção no Ministério da Saúde; e 127 pedidos de abertura de processo de impeachment na Câmara, presidida por um deputado do PP, Arthur Lira (AL).

Risco de ruptura
Quatro dias antes do recesso parlamentar iniciado no último dia 18, Ciro Nogueira informou ao Planalto que não defenderia mais o governo na CPI da Covid, da qual é membro titular. Motivo: naquele dia o Ministério da Economia liberou uma operação de crédito de R$ 800 milhões do Banco do Brasil para o seu estado, governado por um adversário.

Ciro é pré-candidato ao governo do Piauí, contra os nomes a serem apoiados pelo governador Wellington Dias, do PT, de quem foi aliado. Dias imediatamente anunciou ter conseguido os recursos e que eles serão aplicados em obras e na área de segurança, ou seja, com fortes repercussões nas eleições do ano que vem.

O jeito de contornar o problema foi Bolsonaro telefonar pessoalmente para o senador e oferecer-lhe o controle de toda a articulação política do governo, inclusive a distribuição futura de verbas e cargos políticos. Essa é a função da Casa Civil.

Para isso, Luiz Eduardo Ramos terá que ser realocado da Secretaria Geral da Presidência e o atual ocupante da pasta, Onyx Lorenzoni, ganhará a chefia de um naco da Economia a ser transformado em Ministério do Emprego e Previdência.

Tudo isso deverá ser sacramentado na próxima segunda-feira (26), numa reunião tête-à-tête entre o presidente e o senador, em que também serão discutidas as possibilidades de filiação de Bolsonaro ao PP para concorrer à reeleição em 2022.

Poderoso ex-desafeto
Prestes a se tornar o ministro mais poderoso do governo, Ciro Nogueira já foi encarado pelo presidente como um desafeto.
Em 2014, quando era deputado federal pelo PP do Rio de Janeiro, Bolsonaro chegou a anunciar que se candidataria a presidente da República pela legenda, mas Ciro encerrou abruptamente a convenção e, em reunião da Executiva Nacional, levou o partido a apoiar a reeleição de Dilma Rousseff.

“Fui conversar com Ciro Nogueira. Ele não foi democrático comigo. Deu as costas para mim”, reclamou Bolsonaro e logo depois anunciou sua desfiliação.

Em 2017, o presidente do PP explicou em entrevista à TV Meionorte do Piauí porque votaria no PT em 2018: “O Bolsonaro, eu tenho muita restrição, porque é um fascista. Ele tem um caráter preconceituoso.” E arrematou dizendo que Lula foi “o melhor presidente da história deste país”.

Na sua live desta quinta-feira, 22, Bolsonaro disse que passou uma borracha no passado: “As coisas mudam.

Fonte: Folhapress

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