Por alguns instantes no primeiro quarto, pareceu que Boston iria se recuperar mais uma vez da beira do abismo, e que caminhávamos para um Jogo 7: o Boston Celtics abriu o jogo vencendo por 12 a 2 nos minutos iniciais, e tinha uma vantagem de 22 a 16 faltando dois minutos e meio no relógio. O ataque estava agressivo, a defesa feroz, e os Celtics pareciam estar no comando da partida.

E então Golden State anotou 11 pontos seguidos para fechar o quarto à frente, 27 a 22, e depois os 10 primeiros do segundo quarto em uma sequência de 21-0, a maior das Finais da NBA em pelo menos 55 anos e que colocou os Warriors 15 pontos na frente. E o resto, como se diz, é história.

Os Celtics até ameaçaram uma reação no segundo quarto, quando duas cestas de Jaylen Brown e uma série de jogadas de raça e energia conseguiram emendar uma sequência de 7-0 a favor do time de Boston para cortar a vantagem até oito pontos, mas esse foi o mais perto que os Celtics chegariam na partida. Uma sequência dos já conhecidos turnovers dos Celtics – incluindo três em posses consecutivas, – e mais uma boa sequência ofensiva de Stephen Curry logo recolocaram a diferença em 15 pontos antes do intervalo.

O roteiro em si foi um extremamente familiar para quem prestou alguma atenção na série de modo geral, e que deixou as piores tendências do Boston Celtics em primeiro plano. Boston novamente priorizou tirar Stephen Curry do jogo na defesa e obrigar o resto dos jogadores de Golden State a carregarem o ataque, e os Warriors estava prontos para responder à altura: Klay Thompson teve 12 pontos no primeiro tempo, Jordan Poole teve 11, Andrew Wiggins teve 10, e mesmo Stephen Curry terminou o período com 12 pontos, 5 assistências e 4 rebotes. Enquanto isso, o ataque dos Celtics foi marcado novamente por falta de movimentação, jogadores forçando arremessos ruins, e muitos turnovers. E eu digo, MUITOS turnovers: foram 13 apenas no primeiro tempo, que se transformaram em 19 pontos para Golden State. Não adianta nada ter uma excelente defesa se você continua dando chances para o adversário pontuar em transição, e a diferença poderia ter sido ainda maior. Quando soou o alarme indicando o intervalo, os Celtics estavam visivelmente sem energia, esgotados física e mentalmente, e ainda tinha 24 minutos de basquete pela frente.

O segundo tempo foi a coroação definitiva do Golden State Warriors, que caminhou sempre no controle para conquistar seu quarto título da NBA em oito anos e consolidar a maior dinastia da história moderna da NBA. Boston, é claro, nunca desistiu ou abaixou a cabeça; depois de uma temporada (e pós-temporada) marcada por resiliência e sobrevivência, os Celtics lutaram até o fim e merece todos os aplausos e reconhecimento pelo que fizeram. Ao final do terceiro quarto, os Celtics – liderados pelo brilhante Al Horford – chegaram a emendar uma sequência de 16-4 e cortar a vantagem para 9 pontos, mas em nenhum momento a vitória dos Warriors pareceu estar em dúvida.

O terceiro quarto ainda nos trouxe a chance de ver mais uma vez o gênio de Stephen Curry em ação, em especial em uma sequência de três bolas longas consecutivas, a última delas uma obra-prima que deu ao armador exatas 150 bolas de três pontos nas Finais, recorde indiscutível e absoluto da NBA.

O quarto período não foi bonito, tampouco à altura do nível excelente do resto das Finais. Com ambos os times exaustos e os jogadores com alta minutagem, o jogo ficou mais físico e brigado do que plástico: com muitos erros dos dois lados, trombadas, rebotes e faltas. Os Warriors não conseguiam abrir uma vantagem decisiva, e os Celtics não conseguiam se aproximar demais no placar. Com cinco minutos no relógio, Jaylen Brown acertou uma bola de três pontos para cortar a vantagem para 8, mas os Warriors responderam rapidamente: bola de três de Andrew Wiggins, excelente defesa de Curry forçando um turnover do outro lado, e certa de Draymond Green no contra-ataque. E então foi a vez do cara dessas Finais decidir de uma vez por todas a partida.

Curry terminou o jogo com 34 pontos, 7 rebotes e 7 assistências para levar para casa o troféu de MVP Finais que faltava na sua estante. Uma coluna inteira sobre ele virá em breve, mas ele foi o dono da série do primeiro ao último jogo, e essa série coloca de uma vez por todas para dormir a ridícula narrativa de que Curry não domina nas Finais da NBA. Os Warriors não venceriam esse jogo se Curry não fosse por muito o melhor jogador em quadra, tanto nesse Jogo 6 que acabou com vitória de 103 a 90 da equipe da Califórnia, como na série em si.

Mas ele foi, e os Warriors venceram. Os Warriors conquistam seu sétimo título na história, terceira maior marca da NBA atrás apenas de Celtics e Lakers, e o quarto da era Stephen Curry/Steve Kerr em oito anos de parceria. A lista de times desde a criação do relógio de 24 segundos a conseguir esse feito é curta, e gloriosa.

O Boston Celtics de Bill Russell, que venceu 8 consecutivos e 11 em 13 anos.

O Chicago Bulls de Michael Jordan, que venceu 6 em 8 anos.

Os Lakers de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar nos anos 80, que venceram quatro títulos em oito anos (e cinco em nove).

E, agora, o Golden State Warriors de Stephen Curry, dado como morto três anos atrás, e que mostrou para o mundo que estava apenas recarregando as baterias.

Mais uma vez, o Golden State Warriors é o campeão da NBA.

Fonte: Folhapress

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